sexta-feira, 14 de junho de 2013

Muita indignação é pouco: o Brasil não é dos brasileiros!



As ruas do meu bairro são imundas. Não me é concedido o direito a coleta seletiva e o lixo jogado nas esquinas é coletado displicentemente. O que sobra ali se espalha pelas ruas e por lá fica. Essas mesmas ruas são extremamente irregulares e esburacadas dificultando o trânsito de veículos de todos os tipos. As pessoas também circulam pelas ruas, pois as calçadas são ainda mais irregulares. Alguns moradores elevam as calçadas criando rampas p entrada e saída de seus carros das garagens e isso também impede que as pessoas passem por ali.

Não há espaço seguro para sair de bicicleta. Apesar do bairro estar repleto de obras supostamente para melhorar o trânsito, os inúmeros ciclistas da região são solenemente ignorados. Nenhuma ciclovia a vista. Para escapar do trânsito congestionado pelas obras, motoristas, principalmente de caminhões, circulam em ruas compartilhadas em alta velocidade, buzinando e ultrapassando os ciclistas como se fossem os legítimos donos das ruas e únicos detentores do direito de ir e vir. Sequer cogitam a ideia de q podem facilmente extinguir a vida daquele ser humano que pedala. A vida do outro não tem valor.

O transporte público é caro, ineficiente e de péssima qualidade. Sequer encontro abrigo das intempéries enquanto aguardo por um ônibus. Faz-se fila sob a sombra do poste mais próximo ao ponto. Rezo para que não demore muito a chegar (os horários são imprevisíveis) e para que o motorista não passe direto pelo meu ponto, enquanto tento respirar em meio a poeira levantada pelas escavadeiras que trabalham ao redor. Por aqui nem os tapumes se dão ao trabalho de colocar. E quando consigo entrar no ônibus vejo que ele está caindo aos pedaços, acentos soltos, calor de rachar, horas de transito, etc.

Quando preciso de atendimento hospitalar tenho que pagar por um serviço particular porque os hospitais e pronto socorros públicos não prestam atendimento, não tem profissionais suficientes ou faltam equipamentos adequados (meu marido quase morreu tentando ser atendido em 3 unidades e em nenhuma delas foi socorrido).

Preciso pagar pela escola do meu filho porque as escolas públicas, além da qualidade inferior de ensino, são ambientes perigosos: até os professores apanham dos alunos. Embora a grande mídia não fale do assunto, professores ganham cada vez menos e muitas escolas seguem em condições precárias. Sem educação estamos acabando com as chances de um futuro mais digno nesse país.

Pago muitos impostos que são usados em sua maior parte em obras faraônicas, de baixa qualidade, que necessitam de reparos eternos ou de serem demolidas e refeitas. Atualmente, muitas destas estão sendo feitas para receber estrangeiros em grandes eventos e logo serão construções obsoletas, sem uso, elefantes brancos com alto valor de manutenção.

Enfim, estão me tirando o direito de ir e vir, o direito a saúde e educação de qualidade. Sem falar na segurança: policia pacificadora nas favelas é ilusão, vocês sabem. Volto tarde do trabalho, de van, com medo de ser estuprada. Isso não pode ser normal.

Na TV a mídia prega que está tudo bem, que esse governo é bem aceito, que a Copa é tudo de bom. Eu até que queria estar nesse país que a mídia exalta todos os dias, que tem alguns problemas pequenos pra resolver nos bairros pobres, mas que está indo muito bem no geral. Mas afinal, que país é esse?

Vejo o povo se revoltar e ir para as ruas para protestar e a polícia parte para cima com violência para defender o Estado e ninguém mais, porque mesmo quem não estava protestando levou bomba. A mídia noticia que não passam de baderneiros e ocultam muitas verdades. Mas temos a internet. Infelizmente o estrago está feito e muitos ainda acreditam e aceitam esse Estado explorador, opressor, perverso.

Particularmente, queria ir embora daqui para nunca mais voltar, mas ai eu penso que ser estrangeiro também não vai me garantir qualquer direito. Perdemos todos os direitos e agora é preciso lutar ou nada irá mudar.